Philip H. Ward Jr. (1886-1963), americano, nos anos de 1940, fez a primeira tentativa de catalogação dos múltiplos dos Olhos de Boi. Publicou seus apontamentos no Collectors Club Philatelist, volume XXII, julho de 1943.
 
Evidentemente incipiente, porém com o objetivo de divulgar os quantos blocos eram então conhecidos. O trabalho do Sr. Ward serviu de base para dirimir muitas dúvidas atuais, pois se tornou um retrato vivo dos colecionadores ativos daquela época, que o tempo se encarregou de fazê-los esquecidos, pelo menos entre os brasileiros. Afinal, isso ocorreu a mais de setenta anos. De lá para cá nenhum outro filatelista, mesmo brasileiro, se preocupou em atualizar tal catalogação. A verdade é que os primeiros estudiosos dos Selos Numerais do Brasil foram estrangeiros e o primeiro deles, Napier, no longínquo ano de 1920. O Coronel G. S. F. Napier pode e deve ser considerado como o pai da filatelia brasileira, pois em razão de seu trabalho os brasileirismos selos Olhos de Boi se tornaram importantes aos olhos dos colecionadores estrangeiros. Vários deles alcançaram Grandes Prêmios na filatelia mundial expondo os selos Numerais do Brasil.
 
Inicialmente é necessário o esclarecimento que não nos move a intenção de determinar a chapa de impressão, nem a posição que qualquer múltiplo possa ocupar em quaisquer das chapas produzidas e sim, por oportuno, apenas a quantidade de múltiplos novos conhecidos no ano de 2010.
 
Símbolo usado:
* Indica uma ligação histórica direta entre pessoas e eventos.
 
OS MULTIPLOS NOVOS CONHECIDOS
Os múltiplos novos dessa emissão são de raridade ímpar. São conhecidos apenas 2 (duas) quadras, uma outra formada por dois pares verticais rejuntados e 7 (sete) pares. Comparando-o aos demais valores da série é o que tem menor quantidade de múltiplos novos.
 
2 BLOCOS DE 4 (2 x 2):
a) Quadra canto superior esquerdo da folha e as demais margens de excelente qualidade. Parte da goma original. Ex. Duveen, Guinle, Ward, Lilly, Boker, Kuyas, Hubbard, Lima, Santos, atualmente na coleção Goeggel (Fig. 1).
 
Depois da morte de Henry J. Duveen (1854-1919), em janeiro daquele ano, a coleção foi oferecida intacta para venda privada por Charles J. Phillips (Stanley Gibbons) em 1922. Foi separada por lote de países e com os preços estabelecidos em Libras esterlinas, a indicar que a coleção se encontrava na Inglaterra. Desconhecem-se oficialmente os compradores de cada um dos lotes de países. Como relação ao Brasil sabe-se que fazia parte da coleção e assim estava descrita: um Bloco de 4 novo canto de folha do 30rs Olho de Boi, uma tira nova de 5 selos do 90 réis Olho de Boi, como também um bloco de 4 novo do 300rs Inclinado e uma quadra nova do 600rs Inclinado, além de muitas blocos do numerais verticais de 1850, incluindo blocos novos de 4, 6 e 9 do 600 réis (Figs. 2 e 3 – Fonte primária da pesquisa).
 
O Sr. Guinle em suas reminiscências filatélicas, publicada no “Brasil Filatélico” nº 128, novembro/dezembro de 1960, informa textualmente: “Minha melhor compra foi feita a um conhecido antiquário de Londres, Mr. Duveen; dele comprei por 67 contos de réis um grande conjunto de selos do Brasil, onde havia 1 quadra do 300 réis e uma quadra do 600 réis inclinado, vários isolados, cerca de 100 Olhos e Boi onde havia duas quadras e alguns pares novos e usados”. Assim, tem-se como definitivo que essa peça foi comprada diretamente pelo Sr. Guinle a Charles Phillips.
 
Na 1ª Exposição Filatélica Nacional realizada em São Paulo e inaugurada em 2 de dezembro de 1925, constava na relação das peças do acervo do Dr. Guilherme Guinle (1882-1960) uma quadra de 300 réis nova, conforme o histórico desta exposição publicado no “Boletim da Sociedade Philatelica Paulista”, nº 1, de Janeiro de 1926.
 
Após a dispersão da coleção Guinle promovida pelo comerciante uruguaio Julio Rachitoff que a adquiriu em 1937 pela impressionante soma de 3.000$000 (três mil contos de réis) equivalente à época a U$S 500,000.00 (quinhentos mil dólares) a quadra foi parar nas mãos do colecionador norte-americano Philip H. Ward Jr (1886-1963). O Brasil Filatélico nº120, dezembro de 1958, no artigo “Convesa Fiada” de Hugo Fraccarolli, lista as peças então pertencentes ao Sr. Ward (dadas a conhecer através de carta direta ao articulista) e dentre elas a mencionada quadra do 30rs.
 
A seguir, provavelmente no início da década de sessenta, passou para a posse de “Josiah K. Lilly Jr.” (1893-1966), cuja coleção foi leiloada em dezembro de 1968, pela casa “Robert A. Siegel Auctions”, lote número 63 e com preço estimado de US$ 700.00. Foi arrematada pelo valor de US$ 1,350.00.
 
John R. Boker Jr. (1913-2003) foi um comprador ativo de lotes do leilão Lilly, entre eles a maioria do material dos Inclinados, incluída a quadra nova do 300rs e a de 600rs, além de comprar também a quadra nova, canto superior esquerdo da folha, do 30rs dos Olhos de Boi. Há esse tempo John Boker era, na verdade, o sócio oculto da empresa Mercury Stamp Co. (Herbert Bloch), em Nova York. Ele foi uma dos maiores colecionadores americanos. Suas coleções de “US Postmaters” e “Estados Alemães” foram legendárias e montou uma fabulosa coleção de “Buenos Ayres”, que foi vendida no leilão Morhmann, em Frankfurt, nos finais dos anos de 1970.
 
Por volta de 1972 sua coleção de Brasil foi vendida intacta, tendo como agente a Robert Lyman, para “Tevfik Kuyas” (1916-1989), expositor turco. Esse material foi base de fundação da coleção Kuyas, denominada “Rio Collection”, e que foi leiloada em 18 de Maio de 1978 por Stanley Gibbons Auctions, em Frankfurt, Alemanha. Essa quadra tomou o numero de lote 01 e foi oferecida pela soma estimativa de DM 18.000. Foi arrematada pelo valor de DM 18.500,00, conforme o histórico de resultados.
 
O comprador certamente foi Norman S. Hubbard, pois poucos anos depois ele apresentou uma coleção de Olhos de Boi na WIPA’1981, em Viena, onde arrebatou uma medalha de Ouro Grande. O conjunto estava repleto de pares, blocos novos e usados, cartas e várias soberbas peças do primeiro selo brasileiro, entre as quais o “Pack Strip”.
 
Anos depois, durante a realização da Exposição Mundial AMERIPEX’86, nos Estados Unidos, na cidade de Chicago, entre os dias 22 de maio e 1 de Junho de 1986, também se realizou um importante leilão internacional promovido pela empresa Robert A. Siegel Auction Galleries Inc. O evento teve lugar no Hyatt Regency O’Hare Hotel, no dia 25 de Maio, nos salões United A/B, onde foi leiloada a coleção “The Gordon N. John of Classic Brazil”. Teria sido um pseudônimo usado por Norman Hubbard para realizar a venda, pois não desejava ver seu nome citado em catálogos de leilões. Esta quadra estava listada como o lote número 2007 e com a estimativa de US$ 20,000.00, sendo vendida pela soma de US$ 16,500.00.
 
O comprador foi o Sr. Ângelo Lima, que entre outras peças comprou também o famoso Pack Strip. Após ganhar sucessivamente o Grande Prêmio Internacional em Paris, em 1889 e o Grande Prêmio da Classe de Campeões em Tóquio, em 1991, vendeu sua coleção de “Numerais do Brasil” para “David Feldman S.A.”. A quadra foi oferecida no leilão público em Zurich, novembro de 1993, sob o número 30032 pelo valor estimado de Sfr 35.000,00 e sendo arrematada por Sfr 34.000,00.
 
O expositor brasileiro Everaldo Santos foi o feliz arrematante, que após ganhar o Grande Prêmio da Classe de Campeões na exposição LONDON’2000 disponibilizou o seu material de Numerais do Brasil, sob o título “The Santos Collection”, no leilão organizado pela AFINSA em 14.03.2001 e realizado em Madrid. A quadra tomou o número de lote 1 com o valor estimado US$ 60,000.00. Foi comprado posteriormente pelo valor base em trato privado por Hugo Goeggel, colecionador colombiano, e onde ainda se encontra no ano de 2010.
 
b) Quadra com ótima margem esquerda, boa margem direita e demais curtas. Sinal de dobra entre os pares verticais. Corte na margem superior do selo esquerdo e na margem esquerda do selo inferior do bloco. Ex. Newbury, Hubbard e hoje na coleção Goeggel (Fig. 4).
 
Essa peça pertenceu por décadas ao do filatelista americano Saul Newbury (1870-1950), que já era um colecionador ativo de peças da filatelia brasileira desde os anos vinte do século XX. Sua coleção era composta basicamente de material usado, todavia possuía algum material novo dentre os mais notáveis com; uma quadra do 30rs, uma tira de três do 60rs e, claro seu famoso bloco de 12 selos do 90rs. Em 1967, o Sr. Norman Hubbard adquiriu diretamente ao sobrinho e herdeiro Marcelo Newbury a parte da coleção de Olhos de Boi do Sr. Newbury, morto há quase 20 anos, e o saldo da coleção foi adquirido pelos comerciantes Sr Rolf Meyer, residente em São Paulo, e o Sr. Abraão N. Haber, residente no Rio de Janeiro.
Em 25 de maio de 1986, na cidade de Chicago, realizou-se um leilão internacional promovido pela empresa Robert A. Siegel Auctions, onde foi leiloada a coleção “The Gordon N. John of Classic Brazil”. Teria sido um pseudônimo usado pelo Sr. Hubbard para realizar a venda, pois não desejava ver seu nome citado em catálogos de leilões. Esta quadra estava listada como o lote número 2008 e com a estimativa de US$ 10,000.00. A lista de resultados apresentava-a como tendo alcançado a soma de US$ 6,500.00. Todavia, não fora realmente vendida. No ano de 1987 o colecionador colombiano Hugo Goeggel adquiriu a quadra em trato privado ao Sr. Hubbard pela quantia de US$ 11,000.00, e onde ainda permanecia no ano de 2010.